Confira entrevista com membros do Crea JOVEM-DF
Foi-se o tempo em que cargos de chefia exigiam anos de experiência. O espírito empreendedor toma conta do mercado, fazendo surgir líderes cada vez mais jovens
Vinícius Domingues montou uma empresa júnior com amigos da faculdade há um ano. Recentemente, o grupo foi convidado para trabalhar no Haiti
Encontrar, na sociedade, jovens que já conquistaram o seu primeiro milhão não é raro. Seja por meio da internet ou de ideias inovadoras, o perfil desses meninos e meninas de 19, 20 anos se desenvolve de uma forma acelerada a cada dia. No mercado de trabalho, se 10 anos atrás eles eram os aprendizes e ainda sugavam conhecimentos dos mais velhos, hoje, eles são chefes de seções e até de departamentos. Uma prática nociva à adolescência ou ao futuro dos jovens profissionais? Segundo especialistas entrevistados pelo Correio, não.
De acordo com a coach e consultora do Instituto EcoSocial Meiri Inoue, as empresas estão com o foco na inovação e os jovens têm olhares diferentes, conseguem vislumbrar o que as pessoas desejam comprar, o que a sociedade quer em produtos diferenciados. “É uma necessidade de hoje e do futuro que a gente tenha mais lideranças capazes. Muitas pessoas nascem com habilidades e geralmente as aperfeiçoam pelo exercício delas. Quanto mais esse jovem com perfil de líder se expor, melhor ele será formado”, afirma a especialista.
Ser um líder é também saber se relacionar. Logo, as experiências e a capacitação podem começar cedo. Seja como representante de turma no ensino fundamental, organizando grupos de estudo no ensino médio, sendo escoteiro, voluntário em organizações sociais ou monitor de turma. Tudo aquilo que é um desafio, uma coisa nova, que precisa de novos aprendizados estimula a liderança e ajuda a traçar perfis promissores.
No caso do estudante de engenharia Vinícius Domingues, 19 anos, a experiência em gerir uma empresa e coordenar funcionários começou há um ano, quando ele decidiu apresentar um projeto para a universidade onde estuda. Ele queria montar um núcleo de engenharia na Empresa Júnior do UniCeub. Juntou alguns colegas, conseguiu a aprovação do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, convidou um professor para avalizar os trabalhos deles e dedicou-se à possibilidade de fazer projetos para a comunidade sem cobrar nada, apenas pelo aprendizado.
Ainda no terceiro semestre de um curso que dura cinco anos, Vinícius gerencia uma equipe de oito estudantes e aprendeu a identificar erros e acertos em sua gestão. “ No começo, centralizava muito o serviço. Acabava puxando tudo para mim. Depois, percebi que tinha que dividir as tarefas. Melhoramos bastante”, avalia. Ao compartilhar as responsabilidades, Vinícius começou a perceber quais eram as principais qualidades dos integrantes da equipe e em quais funções cada um poderia se encaixar.
“Nós o escolhemos para chefiar a equipe por mérito próprio, em uma conversa informal. Somos todos amigos e estamos aprendendo a cada dia. É um processo de construção do grupo”, diz o gerente de negócios da equipe, Leonardo de Oliveira, também com 19 anos. Foi nesse consenso que os jovens chegaram à conclusão de que reuniões, metas, comunicação e prazos são importantes para a boa realização do trabalho.
A sintonia e as descobertas já geram frutos positivos, que demonstram como o trabalho de equipe com pessoas jovens e inovadoras pode dar muito certo. Eles já fazem projetos para a cidade e foram convidados para reconstruir uma universidade no Haiti, abalado por terremotos no início deste ano. “Estamos na empresa pelo aprendizado e tentamos inovar a cada dia. De 20 a 25 de agosto, vamos participar da 67ª Semana de Engenharia e Agronomia, que será sobre projetos inovadores e novas tecnologias. Saindo de lá, vamos repassar tudo o que aprendemos para os colegas da faculdade. A capacitação e a experiência são essenciais para uma equipe que quer fazer a diferença”, ressalta Vinícius Domingues.
Segundo Juliana Saldanha, consultora de recursos humanos do Grupo Soma, o espírito empreendedor dos jovens aliado a um ambiente favorável de incentivo aos talentos é quase um processo natural para a formação dos chefes. “Um gestor muito jovem pode sofrer preconceito pela idade. Ele vai pecar em algumas coisas que um gestor mais experiente não pecaria por falta de vivência de mercado, mas a produção e o resultado finais vão valer. Se ele tiver a cabeça aberta para escutar as ideias de toda a seção, irá longe”, diz.
Outra forma muito frequente de ter experiências de liderança ainda no início da carreira são os programas de trainee. Empresas investem em pessoas recém-formadas e as transformam em futuros líderes. “É um dos melhores procedimentos, pois, como trainee, o jovem passa por todos os setores da empresa, o que possibilita uma visão global de como funciona cada departamento. Ter essa visão do todo é muito importante para um chefe”, ressalta Juliana Saldanha.
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Fonte: Manoela Alcântara
Correio Braziliense