Vamos contribuir para a mudança desse cenário?
O forte crescimento brasileiro este ano, que pode ser superior a 7%, esconde uma dura realidade: a economia cada vez mais depende de produtos básicos, o que distancia o Brasil das potências tecnológicas. Apesar dos esforços recentes, o País ainda está em posição ruim no ranking mundial de patentes, e o crescimento das pesquisas ocorreu em velocidade menor do que nos países asiáticos, como Coreia do Sul, China e Índia. Especialistas dizem que o Brasil corre o risco de perder oportunidades nas novas fronteiras do conhecimento, caso o próximo presidente não reforce o setor.
O professor Carlos Henrique Brito Cruz, diretor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), cita números que comprovam que o Brasil não está ganhando posições no ranking mundial da inovação.
Em 1994, o País pediu o registro de 60 patentes no escritório americano de propriedade intelectual (USPTO, na sigla em inglês). No ano passado, foram 106 pedidos. Entretanto, a produção do País, nesses dois momentos, representou apenas 0,06% do total mundial. A Coreia do Sul saltou de uma participação de 0,93% das patentes mundiais em 1994 para 5,24% no ano passado. O mesmo se repetiu com a China, a Espanha, a Rússia e a Índia.
"Há casos bem sucedidos, principalmente em áreas como o agronegócio, em petróleo e aviação, mas o problema da inovação está por se resolver. A pesquisa ainda não é parte da estratégia empresarial brasileira. O Brasil está longe das fronteiras do conhecimento.
E o Governo não tem metas ambiciosas, como ter quatro universidades entre as cem melhores do mundo, ao contrário de apenas uma, atualmente", diz.
De acordo com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi) , há 23 empresas que, em 2009, registraram mais patentes globais do que o Brasil. Entre as cem empresas com mais patentes registradas, nenhuma é brasileira. O mesmo se repete no ranking universitário: não há nenhuma instituição nacional entre as 52 mais produtivas do planeta.
Em 2009, pela primeira vez desde os anos 70, seis produtos básicos (soja, farelo, petróleo, açúcar, minério de ferro e carne de frango) responderam por um terço das exportações brasileiras. O peso dos manufaturados nas exportações, que sempre ficava entre 50% e 60% nos anos 90 e 2000, está desde 2007 abaixo de 50% das exportações - fechou 2009 no piso, 44,02%.
Gargalos e câmbio dificultam inovação
O presidente do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), Jorge Ávila, reconhece que o País ainda tem uma taxa de inovação abaixo de seu potencial, mas vê mudanças: "O Brasil está no time dos novos inovadores, mas talvez seja o mais recente de todos. A nossa matriz nunca foi criativa, temos que mudar isso".
Ávila diz que os problemas de gargalos na infraestrutura do País e a taxa de câmbio, com o real valorizado, dificultam a inserção dos produtos brasileiros no mercado externo e, assim, não incentivam a pesquisa.
"Não podemos esquecer, contudo, que há muita tecnologia por trás de produtos básicos", disse o presidente do INPI, embora muitos especialistas afirmem que a pesquisa em produtos básicos aumenta a produtividade, não seu preço.
Carlos Gadelha, vice-presidente da Fiocruz, reconhece os avanços, mas afirma que, além do problema histórico, o País precisa avançar nos marcos regulatórios, para ampliar as parcerias entre instituições de pesquisa e empresas. Ele afirma que os tribunais de contas também precisam entender que as compras do setor são distintas e que, muitas vezes, o equipamento necessário não pode ser o mais barato
Além disso, ele lembra que faltam recursos: "O Brasil possui um déficit comercial anual em remédios de US$ 8 bilhões. Se o investimento em pesquisa triplicasse, de R$ 200 milhões para R$ 600 milhões, o déficit do setor poderia cair até 25%, ou US$ 2 bilhões. Temos que vencer a resistência dos pesquisadores, que no Brasil sempre foram muito acadêmicos. O Brasil é mais forte em ciência do que em inovação".